Fleury publica estudo sobre manifestação oftalmológica rara em paciente com MPOX

O Grupo Fleury acaba de publicar na Revista Journal of the American Medical Association (JAMA) um artigo científico relatando o caso de um paciente com MPOX, que apresentou envolvimento ocular grave da córnea e da úvea (ceratite e uveíte). A companhia é a primeira do mundo a descrever essa manifestação rara, sendo que no caso o paciente apresentou melhora com o uso do antiviral Tecovirimat – medicamento que tem liberação no Brasil para uso compassivo. O Grupo Fleury ofereceu ao paciente todo o suporte necessário com os testes moleculares, usados para diagnóstico, e o acompanhamento do paciente foi feito pela Clínica de Olhos Dr. Moacir Cunha. A publicação teve, ainda, participação de pesquisadores do departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que seguem avaliando os impactos da doença na oftalmologia.

Em agosto de 2022, um homem de 27 anos compareceu a Clínica de Olhos Dr. Moacir Cunha com hiperemia, dor e baixa acuidade visual no olho esquerdo. O paciente já havia testado positivo para o vírus MPXV e apresentado febre, lesões na face, pálpebra, região genital, mãos, pés e na parte superior das costas. Os profissionais de saúde deram início ao tratamento de forma imediata, buscando aliviar os sintomas. Apesar da completa resolução das lesões de pele, o paciente evoluiu com piora do quadro ocular. A melhora clínica e recuperação da visão foi observada após tratamento com o antiviral Tecovirimat. Os pesquisadores também avaliaram a dinâmica viral na superfície ocular, descrevendo sobre a persistência prolongada do vírus no olho e comentaram sobre a necessidade de mais estudos nessa área, visto que a presença do vírus intraocular poderia representar um risco de invasão da doença para o Sistema Nervoso Central.

A MPOX e a manifestação oftalmológica rara

A MPOX é uma enfermidade causada pelo vírus MPXV, que apresenta identidade genética 90% similar à varíola. Entre os principais sintomas estão as lesões de pele e mucosas, desde pequenos nódulos que lembram uma “espinha” até as maiores com aspecto de bolha. Além disso, cerca de 20% dos pacientes podem apresentar casos leves de conjuntivite ou até um edema palpebral, podendo evoluir para ceratite e cicatrizes corneanas profundas e/ou uveíte, uma manifestação inflamatória intraocular que pode ser causada por ação viral direta ou por processos imunomediados no curso da doença, comum em muitas enfermidades virais. Embora o desconforto causado pela conjuntivite e edema palpebral seja temporário, em até 7,5% dos casos as córneas podem ficar permanentemente afetadas. Esses dados foram descritos nos surtos anteriores e ainda não há conhecimento sobre os riscos no atual surto.

“A ceratite pode vir acompanhada de redução de sensibilidade ocular e resultar na formação de úlceras de córnea e cicatrizes irreversíveis. Outras manifestações da MPOX, observadas último surto, são a conjuntivite, com aumento dos gânglios linfáticos da região pré-auricular, lesões ao redor dos olhos e nas bordas palpebrais, que podem vir acompanhadas de coceira no local. Nos casos mais graves, especialmente em pacientes imunodeficientes, podemos ter complicações como a celulite orbitária e a uveíte, que podem causar prejuízo de visão, caso não haja tratamento correto e de maneira rápida. Importante que os pacientes afetados suspendam o uso de suas lentes de contatos e não coloquem as mãos nos olhos”, explica a Dra. Luciana Peixoto Finamor, oftalmologista da Clínica de Olhos Dr. Moacir Cunha.

A principal via de transmissão da MPOX é o contato direto com as lesões, bem como, por fluidos corporais, gotículas respiratórias, objetos e superfícies contaminadas. “Estamos desenvolvendo um estudo para obtermos mais informações sobre o acometimento ocular resultado pelo vírus. O que mais indicamos é que os pacientes não levem as mãos aos olhos, pois a infecção pode ser transmitida para a superfície óptica. É possível que a lágrima e a secreção conjuntival também sejam foco da infecção, mas isso ainda é pouco conhecido”, ressalta a Dra. Carolina Lázari, infectologista do Grupo Fleury.

“A descrição sobre o sucesso do tratamento publicada no JAMA pode abrir portas para que o Brasil tenha acesso a mais antivirais. Desde o momento em que recebemos o caso fizemos o possível para prestar o acolhimento e cuidados necessários ao paciente, enquanto estudávamos para aprimorar ainda mais as nossas opções. Por se tratar de uma doença que em geral é autolimitada, nossa ação focou, principalmente, em reduzir os sintomas e riscos de acometimento definitivo da visão. Realizamos um atendimento totalmente personalizado para esse paciente e conquistamos um desfecho clínico favorável”, conta a Dra. Luciana.

Sintomas e tratamentos

Os principais sinais da enfermidade são as lesões de pele – que podem aparecer em qualquer parte do corpo, subitamente, inclusive na região genital, anal ou na cavidade oral –, dor de cabeça, febre acima de 38,5°C, dores musculares e no corpo, fraqueza profunda e aumento dos linfonodos (glândulas do sistema imunológico), que geralmente ocorre no início da doença e são considerados a principal diferença do MPOX para a varíola. O período de incubação é de cinco a 21 dias.

“A infecção é geralmente autolimitada, mas pode ser grave em certos subgrupos populacionais, como crianças, grávidas e indivíduos imunossuprimidos. A melhor forma de prevenção é evitar contato com pessoas que estejam infectadas e lavar as mãos regularmente. As práticas de sexo com proteção também têm se mostrado importantes no surto atual”, enfatiza a infectologista.

Não existe um tratamento específico para a doença, mas sim para os sintomas, principalmente a dor, que pode ser intensa nas lesões. “O aconselhamento é que o indivíduo permaneça em isolamento domiciliar até que todas as feridas estejam cicatrizadas. Nos casos das infecções oculares, é essencial que a pessoa busque um profissional de saúde o mais rápido possível e jamais se automedique. O colírio inadequado pode causar perfuração da superfície ocular e ocasionar na perda definitiva da visão”, finaliza a oftalmologista.

Como é feito o diagnóstico da MPOX a partir da manifestação de infecções oculares?

Pacientes com quadro de olho vermelho ou com suspeita de conjuntivite que apresentem lesões tipo vesículas ou bolhas em qualquer parte do corpo, especialmente na face e região palpebral, devem ser questionados em relação a sintomas sistêmicos que possam ser causados pelo vírus da MPOX. O diagnóstico de certeza será feito pelo teste molecular, onde se confirma a presença do material genético do vírus nas lesões e até mesmo na superfície ocular (PCR).

“Vimos que pode existir uma dissociação entre o quadro de pele com lesões cicatrizadas e olho ainda com exame positivo. Isso está sendo estudado e não há dados suficientes para saber, por exemplo, se a lágrima é infectante. Essa doença é nova entre nós e estamos aprendendo com esses casos iniciais”, ressalta a Dra. Luciana.

Onde o exame de diagnóstico da MPOX é realizado?

Até o momento, o Grupo Fleury disponibiliza o teste para diagnóstico da MPOX por meio de suas marcas de Medicina Diagnóstica que estão localizadas nos estados de São Paulo (SP), Paraná (PR), Rio Grande do Sul (RS), Maranhão (MA), Pernambuco (PE) e Rio de Janeiro (RJ). No entanto, a coleta é realizada em unidades específicas, visto que requer procedimentos especiais. As informações sobre as unidades que oferecem o exame podem ser obtidas nas centrais de atendimento de cada marca. (Com informações do portal Labnetwork – 09.01.23)

Anterio

Próximo