Eleito para ocupar a presidência da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) no biênio 2018/2019, o médico patologista clínico Wilson Shcolnik tem uma longa trajetória de atuação na entidade, onde, de 1995 a 1997 foi o 1º Tesoureiro; de 2002 a 2003 foi diretor de Acreditação; e no biênio seguinte foi vice-presidente. Em 2006/2007 ocupou pela primeira vez a presidência da entidade, assumindo, em 2008/2009, a presidência do Conselho de Ex-Presidentes (Conex). Em 2010, volta à diretoria de Acreditação, que, em 2012, passa a ser denominada Diretoria de Acreditação e Qualidade. Nessa entrevista ao site da CBDL, Wilson Shcolnik fala dos seus projetos para esse biênio que começa e como pretende aprofundar a parceria da SBPC/ML com a Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL).
Seu mandato teve início agora em janeiro. Quais são seus planos para esse biênio à frente da SBPC?
WS – Desejamos continuar contribuindo para a atualização científica dos profissionais que atuam no setor de laboratórios clínicos, por meio dos eventos científicos programados, de nossos programas de acreditação e de indicadores laboratoriais de qualidade, já que essas iniciativas se mostraram exitosas e alcançaram reconhecimento internacional. Vamos seguir trabalhando para manter as conquistas de diretorias que nos antecederam, como a certificação da SBPC/ML como entidade acreditadora e a norma do PALC, pela ISQua.
É nosso desejo manter a representação na ANS, discutindo a incorporação de novos exames na TUSS e no Rol de procedimentos que vigorará a partir de 2020.
Defenderemos também, a manutenção do “fator de qualidade” para fins de reajustes contratuais. Na Anvisa participaremos das discussões técnicas para revisão das RDCs 302, 50, 306, que abordam o funcionamento de laboratórios clínicos, a infraestrutura de serviços de saúde e o tratamento de resíduos de serviços de saúde, respectivamente.
Pesquisa recente divulgada pela SBPC/ML apontou que apenas 5,4% dos exames laboratoriais não são acessados pelos pacientes. O resultado derrubou o mito divulgado por autoridades e algumas instituições de saúde de que 50% dos exames não eram acessados pelos pacientes. Qual a importância dessa pesquisa para o setor?
WS – Temos presenciado frequentes discussões sobre desperdícios existentes no setor da saúde, e muitas vezes, vem à tona a queixa sobre o excesso de exames realizados, desconsiderando que os gastos com exames laboratoriais representam menos do que 3% dos gastos totais em saúde. Os médicos continuam se baseando nos nossos resultados para tomar decisões sobre diagnósticos, sobre os melhores tratamentos a serem instituídos e essas são definições decisivas que afetam a saúde de seus pacientes. Há estudos consistentes que revelam que a sub-utilização de exames laboratoriais é mais prevalente e alcança a mais de cerca de 45% enquanto a superutilização ocorre em 20% dos casos. Por isso queremos discutir o uso racional de exames.
Apesar de citações frequentes sobre o número de resultados de exames não retirados dos laboratórios, nunca encontramos as fontes desses dados, e consideramos que só os laboratórios clínicos podem obter esse número.
Temos consciência da necessidade de manter a sustentabilidade dos sistemas de saúde brasileiros, tanto o público como o privado. Por isso estimulamos o setor a monitorar, de modo que possamos contribuir para a redução do desperdício e tornar mais efetivos os resultados da assistência à saúde.
Esse dado vai fundamentar algum tipo de trabalho da SBPC?
WS – Sim, esse estudo está sendo usado como base para uma publicação científica, pois a falta de monitoramento de resultados de exames laboratoriais tomou uma importância única, depois da publicação do Instituto de Medicina norte-americano “Improving Diagnosis in Medicine”. Há dados que revelam a ocorrência de atrasos ou erros diagnósticos por falta de monitoramento desses resultados, sobretudo quando os exames são realizados em ambientes hospitalares, e isso coloca em risco a segurança dos pacientes. Assim, nosso setor precisa se conscientizar das ações necessárias para que os laboratórios contribuam para modificar esse cenário.
A Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL) sempre encontrou uma grande parceira na SBPC/ML. Qual a importância dessa parceria?
WS – Nós entendemos que o diálogo permanente com todos os atores que integram a cadeia produtiva é importante para o nosso setor. Já se foi o tempo de cada um lutar por seus interesses, de forma individualizada. A CBDL representa as mais importantes empresas, fabricantes e distribuidores de materiais para laboratórios clínicos e, por meio dessa parceria, tem contribuído para dar suporte ao nosso diálogo com órgãos reguladores (ANS e ANVISA).
Nesse mandato há projetos em que as duas entidades pretendem trabalhar juntas? Poderia citar e explicar quais e a sua importância? Como será desenvolvido esse trabalho?
WS – Temos planos de promover discussões técnicas em conjunto e até de promover eventos para discussão de soluções inovadoras que podem ser aplicadas na assistência, para torná-la mais efetiva. Temos o desafio de demonstrar os impactos positivos que o nosso trabalho pode trazer para os desfechos da assistência à saúde. Será importante comunicar que resultados de exames confiáveis só podem ser obtidos mediante a utilização de reagentes e equipamentos de qualidade, associados a uma boa prática, que pode ser avaliada por processos de acreditação. O trabalho permanente junto à Anvisa poderá assegurar que nosso setor não correrá risco de desabastecimentos, algo que traria grandes impactos para a assistência.
Como essa parceria SBPC/ML e CBDL pode ser aprofundada?
WS – O momento exige mudanças, de modo que a população sinta-se melhor assistida. Não há porque apenas criar barreiras, deixando de considerar os novos conhecimentos e recursos laboratoriais disponíveis. Nosso desejo é que toda a população brasileira, seja a que tem acesso ao SUS, como a que utiliza o sistema suplementar de saúde, possa desfrutar de exames laboratoriais de qualidade, que as ajudem no monitoramento da sua saúde e no gerenciamento das doenças.
Tentaremos compor uma agenda de trabalho que possa ser colocada em prática durante os próximos anos. Vamos falar sobre o uso racional de exames laboratoriais, pois isso representa a essência do trabalho do patologista clínico.