Como já é tradicional nos congressos realizados pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), neste 1º Congresso Virtual da SBPC/ML foi realizada a premiação dos dois melhores trabalhos, dentre os 85, apresentados na categoria “Temas Livres” durante o evento. O primeiro lugar recebeu o valor de R$ 1.800,00 mais a inscrição gratuita para o 54º congresso da SBPC/ML. O segundo, isenção da inscrição para o evento.
A primeira colocação foi do estudo “Avaliação laboratorial de cinco ensaios de anticorpos anti-SARS-CoV-2”, com autoria de Ana Paula Marques Aguirra da Silva, Vanessa Severo, Silvia Rodrigues, Denise dos Anjos Laurentis, Patricia Matsuo, Leticia Garcia, Eliane Rosseto e Cristóvão Mangueira.
Dr. Cristóvão, patologista clínico do hospital Israelita Albert Einstein, comemora a conquista. “Em nome do hospital quero agradecer imensamente a honraria deste primeiro prêmio de trabalho científico no 1º Congresso Virtual da SBPC/ML e parabenizar a toda equipe da imunologia pela iniciativa e, principalmente, pelos resultados obtidos nesse trabalho. Esperamos que eles sejam muito úteis aos leitores dos dados e que nos ajudem a sair desse tempo tão sombrio para dias melhores”.
O Segundo lugar trouxe o tema “Cycle tresholds (Ct) dos genes alvos N1 e N2 no diagnóstico de SARS-CoV-2 como preditores de mortalidade em pacientes hospitalizados com COVID-19”, com autoria de Thalia Medeiros Tito Avelar, Cintia Fernandes, Fabiana Carvalho, Renan Faustino, Gleiser Tupinambá, Andrea Alice, Fábio Aguiar e Jorge Almeida.
“Gostaria de agradecer o recebimento do prêmio, foi uma grande honra. Agradeço a UFF, ao programa de pós-graduação em patologia, no qual sou pós-doutoranda. Também aos pesquisadores Drs. André Elias da Silva e Jorge Reis Almeida, que continuaram nesse momento difícil com perseverança para contribuir tanto para a pesquisa quanto para o diagnóstico dos pacientes com a COVID-19. Também a toda equipe envolvida do nosso laboratório, as pessoas que participaram, pois tem sido uma jornada muito árdua. Agradeço a SBPC/ML e pela realização do congresso que vem a agregar muito na nossa comunidade. Por fim, agradeço a apresentação de todos os trabalhos envolvidos. Foi uma ótima oportunidade trocar essa experiência com vocês”, comemora a Dra. Thalia, patologista clínica.
A cada ano que passa os trabalhos superam as nossas expectativas. “A qualidade de cada um deles, a maneira com que a pesquisa é desenvolvida e o alto grau de conhecimento e comprometimento dos profissionais são excelentes. Esses resultados só agregam aos patologistas clínicos do mundo todo, visto que, especialmente neste caso da pandemia da COVID-19, todos estamos caminhando para um mesmo senso comum”, explica o Dr. Leonardo Vasconcellos, coordenador da grade científica do evento. Confira abaixo os resumos dos dois trabalhos:
Avaliação laboratorial de cinco ensaios de anticorpos anti-SARS-CoV-2
Silva APMA, Lemos VS, Rodrigues SS, Campos DALS, Matsuo PM, Garcia LDA, Welter EAR, Mangueira CLP Objetivos: Apesar de o vírus da síndrome respiratória aguda grave-coronavírus 2 (SARS-CoV-2) ser facilmente identificado por métodos de biologia molecular os ensaios para a pesquisa de seus anticorpos ainda estão em desenvolvimento. Como os testes sorológicos contribuem para o conhecimento da prevalência da doença, este trabalho teve como objetivo analisar a sensibilidade e especificidade de cinco métodos automatizados para detecção de anticorpos anti-SARS-CoV-2.
Casuística e métodos: Foram utilizadas 110 amostras positivas para SARS-CoV-2 por RT-PCR de pacientes que buscaram atendimento hospitalar e 50 amostras verdadeiramente negativas provenientes de soroteca. As amostras foram processadas em cinco plataformas de automação: anticorpos totais anti-SARS-CoV-2 por eletroquimioluminescência (ECLIA) Cobas™/Roche e anticorpos IgG anti-SARS- -Co por quimioluminescência (CLIA) Maglumi™/Snibe; quimioluminescência por micropartículas (CMIA) Architect™/Abbott; quimioluminescência (CLIA) Virclia®/Vircell; e quimioluminescência (CLIA) Liaison®/DiaSorin.
Para as análises, as amostras positivas foram estratificadas entre 7 e 14; 15 e 20 e acima de 20 dias desde o início dos sintomas. Foram utilizados os cálculos de especificidade e sensibilidade e o programa GraphPad Prism. Resultados e conclusão: Verificamos que as automações Cobas™/Roche, Architect™/Abbott, Virclia®/Vircell possuem a mesma sensibilidade de 92,5% quando comparadas em relação a pacientes que apresentam mais de 20 dias de sintomas.
Já para o Liaison®/DiaSorin foi verificada uma sensibilidade de 88,4% e para o Maglumi™/Snibe esse valor foi de 70,3%. Em relação à especificidade, somente a automação Maglumi™/Snibe apresentou 96%, enquanto Cobas™/Roche, Architect™/Abbott, Virclia®/Vircelll e Liaison®/ DiaSorin apresentaram o mesmo nível de 100%. Esses dados confirmam que os testes sorológicos anti-COVID-19 têm alta especificidade, porém sensibilidade variada. Esse perfil deve ser considerado na escolha dos métodos para melhor estimativa dessa doença na população.
Cycle tresholds (Ct) dos genes alvos N1 e N2 no diagnóstico de SARS-CoV-2 como preditores de mortalidade em pacientes hospitalizados com COVID-19
Não existe consenso sobre a aplicação clínica dos valores de cycle tresholds (Ct) dos genes-alvo avaliados durante o diagnóstico infecção pelo SARS-CoV-2. Dessa forma, nosso objetivo foi analisar se há correlação entre os valores de Ct e a mortalidade em pacientes hospitalizados por COVID-19. Casuística e métodos: Foram analisados o Ct dos genes-alvo N1 e N2 do SARS-CoV-2 a partir do diagnóstico molecular (RT- -qPCR), associando os desfechos clínicos dos pacientes (alta ou óbito) no fim da hospitalização.
Resultados e conclusão: Foram estudados 78 pacientes com teste positivo para SARS-CoV-2. Foram identificados 38 (48,7%) casos de óbitos. O diagnóstico foi realizado principalmente nos primeiros cinco dias de hospitalização por COVID-19. Encontramos uma diferença evidente entre os valores de Ct para os genes-alvo N1 e N2 de acordo com o desfecho clínico, no qual pacientes que evoluíram para óbito apresentaram valores de Ct significativamente inferiores (p = 0,0006 e p = 0,0003 para N1 e N2, respectivamente). Após análise das curvas ROC, valores de área sob a curva (AUC) para N1 e N2 foram 0,72 e 0,73, respectivamente (p < 0,001) e os pontos de corte foram 21,35 para N1 e 20,90 para N2. Utilizando esses pontos de corte em tabelas de contingência, encontramos um valor preditivo de mortalidade bruta de aproximadamente 71,1% e 75% para N1 e N2, respectivamente. Por fim, calculamos o risco relativo (RR) e o odds ratio (OR), sendo para N1, RR = 2,584 (IC 95% = 1,5 a 4,4) e OR = 6,471 (IC 95% =2,4 a 17,4); enquanto para N2, RR = 2,864 (IC 95% = 1,6 a 4,9) e OR = 8,4 (IC 95% = 3 a 23,5). Esses achados sugerem que, além do diagnóstico, quando realizado o RT-qPCR nos primeiros dias da internação, o valor de Ct pode agregar valor prognóstico para pacientes com COVID-19. (Com informações da Advice Comunicação Corporativa – assessoria de imprensa da SBPC/ML – 08.10.20)