A frase é do já falecido economista, diplomada e político, Roberto Campos. E assim como a imagem que ilustra esta postagem, de um voo de galinha, pode ser relacionada com a nossa incapacidade de promover ciclos robustos e sustentados de crescimento econômico e desenvolvimento social. De fato, ao longo da história de nosso país, tivemos vários momentos em que os ventos sopraram favoráveis e parecia que iríamos finalmente deixar de ser “o país do futuro”. Contudo, até aqui, jamais fomos capazes de nos estruturar para capturar tais oportunidades, promovendo as reformas estruturais necessárias de forma a criar as bases para a promoção de um consistente ciclo de desenvolvimento.
A última grande chance que perdemos está relacionada ao recente boom das comodities, que, em grande parte, foi puxada pelo vertiginoso crescimento da economia chinesa e que coincidiu com uma grande oferta global de liquidez. Naquele momento. recebemos um grande influxo de investimentos, tínhamos uma moeda relativamente estável, dívida controlada, atingimos o grau de investimento e, quando parecia que nos tornaríamos finalmente membros do grupo dos países desenvolvidos, vimos tudo ruir.
É tentador, na verdade quase inevitável, buscar culpados para esta nossa incapacidade. A Monarquia, os Coronéis da Cana-de-açúcar, os Seringueiros do Norte do País, os Barões do Café, os Comunistas, os Militares, os Negros, os Índios, os Portugueses, a Burguesia, os Políticos… como se fossemos 210 milhões de “vítimas do Brasil”.
Eis que podemos estar a ponto de perder outra grande oportunidade. A partir das rupturas provocadas pela pandemia de COVID-19, iniciou-se uma discussão acerca de realocação das cadeias produtivas, até aqui fortemente concentradas na China. Poderíamos (ou deveríamos) estar, neste exato momento, discutindo e nos estruturando para atrair parte destas cadeias produtivas para regiões estratégicas do país. No cenário atual, é razoável supor alguns requisitos para isso:
Polos produtivos regionalizados – Regiões estrategicamente escolhidas para concentrar tipos específicos de cadeias;
Mão-de-obra qualificada – Convênios entre universidades e empresas para formação de mão-de-obra específicas para os polos produtivos da região em que estão inseridos;
Infraestrutura – Sistemas especializados conforme especificidades da região produtiva, com centros de integração e distribuição eficientes;
Estabilidade econômica – Políticas fiscais e monetárias ortodoxas, sem truques, furos de teto ou pedaladas;
Segurança jurídica – Regras claras, que não mudem ao gosto de correntes de pensamentos. “No Brasil, o passado é incerto”. A frase de Pedro Malan ilustra a insegurança que historicamente vivemos;
Democracia – Instituições fortes, divisão de poder, sistemas de pesos e contrapesos, transições harmoniosas, que tenha representatividade e, ao mesmo tempo, as salvaguardas para não se tornar uma “ditadura da maioria’;
Adesão a acordos e padrões supranacionais – Respeitar e ser respeitado em organizações como ONU, OMC, OMS, UNESCO, OCDE, além de blocos específicos e acordos bilaterais.
Alguns destes requisitos seriam, até pouco tempo, vantagens competitivas de nosso país na disputa para atrair parte destas cadeias produtivas. Contudo, infelizmente, parece que fomos capturados por uma visão maniqueísta de mundo que vem dividindo o país em torno de discussões que, mesmo quando o tema é relevante; são conduzidas de forma pouco racional.
Assim, quando, no futuro, a História do Brasil falar dos dias atuais, seremos talvez descritos como a geração que se embrenhou disputas internas e pouco relevantes perdeu uma grande oportunidade que deixarmos um país melhor para as gerações que seguiram.
*Por Eduardo Winston Silva – Country Director na NuVasive