*Por José Marcos Szuster
Podemos dizer que o Brasil, há muitos anos, incorporou ao seu DNA a preocupação com a prevenção e combate de doenças transmissíveis. Já no final do séc. XIX e no início do séc. XX, doenças como febre amarela, peste bubônica e varíola desafiavam a vida dos brasileiros, no entanto, o pioneiro epidemiologista Oswaldo Cruz investiu em diferentes técnicas e estratégias para combater e proteger as pessoas dessas enfermidades, o que salvou muitas vidas e reafirmou que a inovação não está apenas nas respostas, mas também na prevenção e controle das doenças.
Na esteira desse processo, é inegável o aprendizado dos últimos dois anos de pandemia para o mercado de saúde e bem-estar, não só no Brasil, como no mundo. A crise provocada pela Covid-19 transformou e acelerou as atividades do setor, estimulando a indústria a buscar, em tempo recorde, soluções tecnológicas e de qualidade capazes de otimizar os atendimentos e oferecer novos produtos cada vez mais eficientes para apoiar o controle da doença.
A inteligência artificial e a telemedicina se tornaram aliadas fundamentais dos negócios e ferramentas essenciais para enfrentar os novos concorrentes digitais, ao lado de integrações e parcerias entre diversos elos da cadeia. Essa transformação também resultou em investimentos em pesquisa e tecnologia por parte da indústria farmacêutica e de startups, pólos móveis de atendimento, além do maior foco em atenção básica e aos profissionais de saúde, que acabaram desenvolvendo novas competências. De acordo com um estudo recente da consultoria Bain & Company, o cenário da pandemia criou para o mercado da indústria farmacêutica uma representação de US$ 60 bilhões de dólares. Afinal, foram produzidos testes para diagnosticar as infecções e vacinas para preveni-las. Esses produtos também foram essenciais para trazer agilidade nos diagnósticos, o controle de circulação do vírus e novas mutações, além de, especialmente no caso das vacinas, reduzir o agravamento da doença.
Já no âmbito da cultura de testagem no país, podemos dizer que a sociedade está muito mais conscientizada dessa importância. Prova disso foi expressivo aumento na demanda por testes em 2022, que chegou a 500% no início de janeiro diante da nova variante ômicron, segundo dados da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL). A indústria farmacêutica mundial, assim como empresas responsáveis pela importação e distribuição dos produtos no Brasil, trabalharam incansavelmente para trazer o que há de mais moderno e eficiente em termos de produtos, inclusive, pensando em testes menos invasivos, que trouxessem ainda mais conforto aos pacientes no momento do exame. Cientistas da Universidade Fudan de Xangai, na China, já anunciaram o desenvolvimento de um novo tipo de teste de covid-19 que garante ser tão preciso quanto o PCR e cujo resultado fica pronto em quatro minutos.
Adicionalmente, tivemos o crescimento do debate e a regulamentação dos autotestes para a doença no Brasil, o que até o momento não tinha aval de comercialização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Foi um passo extremamente relevante, já que o produto funciona como uma triagem, tornando mais ágil a detecção da doença e a necessidade de isolamento do paciente.
Desta forma, excluindo-se as lamentáveis perdas e demais desafios provocados pela crise na saúde, estamos cercados de avanços positivos e o mercado deve continuar empenhado na busca pelo desenvolvimento e inovação constantes, não só no que se refere ao novo coronavírus como também nas demais doenças transmissíveis e até mesmo as crônicas, como diabetes e cardiovasculares, que necessitam de acompanhamento e controle constante. Aprendemos ainda mais com a pandemia que investir na saúde é estratégico para o Brasil, tanto do ponto de vista da longevidade da população, como no aperfeiçoamento profissional, geração de empregos, além do próprio desenvolvimento econômico.
*José Marcos Szuster é CEO e fundador da MedLevensohn.