Novas tecnologias e o futuro do diagnóstico laboratorial no Brasil foi tema do debate em evento dos 25 anos da CBDL

Casa cheia durante o debate promovido pela Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), no último dia 30/03, no auditório do Grupo Fleury, em São Paulo.

 

Os mais conceituados profissionais do segmento laboratorial prestigiaram o workshop “O Papel e o Futuro do Diagnóstico na Saúde Suplementar – Tendências”, que teve a coordenação do professor Dr. Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, ex-secretário municipal de saúde de São Paulo e um dos idealizadores da Agência Nacional da Vigilância Sanitária, Anvisa. O evento fez parte das comemorações dos 25 anos da CBDL.

 

O presidente da CBDL, Fábio Arcuri, abriu o evento traçando uma linha do tempo desde a criação da entidade até os dias de hoje, e reforçou os pilares da instituição (acesso, regulação inteligente, ética e compliance) que, atualmente, representa o setor de IVD (Diagnóstico in Vitro).

 

Feitas as considerações iniciais, a CBDL apresentou os últimos números de sua pesquisa de mercado, o que corresponde a 70% do setor de diagnóstico in vitro. Entre os índices, o superávit de 8% no volume de vendas de 2015 para 2016 (2,8 bilhões de reais).

 

Logo em seguida foi a vez de Jeane Tsutsui, diretora executiva médica e técnica do Grupo Fleury, apresentar as mudanças do setor de medicina laboratorial ao longo do tempo, além das tendências para o futuro. Jeane fez uma explanação sobre os stakeholders e as operadoras de saúde, o papel da automação e o sistema de atendimento (assessoria médica), e ainda, a pressão pelas soluções que possam agregar valor. A diretora do Fleury também discorreu sobre a incorporação de novas tecnologias e pontuou sobre a necessidade de questionar três aspectos fundamentais: é possível inovar?;  é viável para o mercado?; é desejável para o paciente?

 

Jeane terminou sua apresentação falando sobre o aumento de casos de câncer no Brasil e ressaltou avanços como, por exemplo, a internalização dos testes, os novos modelos de gestão da saúde e a integração das equipes multidisciplinares.

 

Gustavo Campana, diretor da DASA e da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), também traçou uma análise do mercado de diagnóstico e destacou o futuro da medicina laboratorial na incorporação de estratégias de ensino, pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, e no empoderamento do paciente.  Campana ainda revelou que 70% das decisões clínicas têm como base um resultado laboratorial e evidenciou a relação custo-eficiência dos testes.

 

Já Guilherme Collares, do Laboratório Hermes Pardini, iniciou sua fala mencionando a complexidade da questão do reembolso e sublinhou as conquistas da marca nos últimos anos, e o crescimento da rede na ordem de 24%, entre 2015 e 2016. Apontou o caráter pioneiro do Hermes Pardini na automação total e a redução de custos e o aumento da produtividade.  Por fim, revelou a abertura de uma nova unidade de medicina de precisão ainda em 2017.

 

A última apresentação foi a de Leandro Figueira, do Grupo Alliar, que discursou sobre os novos sistemas de gestão de saúde e a implantação dos dados em nuvem (cloud) e a rápida evolução no advento da Internet das Coisas ou IoT (Internet of Things, em inglês). Figueira acentuou outra grande inovação, o VOCC – Virtual Operating Command Center, tecnologia capaz de realizar operações remotas em real time.

 

Ao concluir, o diretor da Alliar provocou uma reflexão enfatizando o custo de 22 bilhões de reais, que poderia ser evitado se o país coibisse os desperdícios e as fraudes na saúde.  “Quem financia tudo isso? Os verdadeiros financiadores somos nós, que pagamos essa conta”, concluiu.

 

Debate

Como o tempo era curto o debate permitiu perguntas de cinco pessoas do plenário. Entre elas, questionamentos sobre o processo chamado Liberação Automática, dizendo que no Brasil a legislação não permite; a consistência dos números levantados e divulgados pelo IESS;  o que as empresas estão fazendo em termos de capacitação e treinamento de profissionais para lidar com a incorporação de novas tecnologias; se existe iniciativa para aproveitar os dados sobre análise epidemiológica para melhorar os custos na saúde pública; e ainda, dentro do contexto economia na saúde, como estão os impactos (custos) em suas empresas?

 

Sobre os números levantados pelo IESS foi dito que, muitas vezes, as solicitações podem estar erradas. Jeane Tsutsui, do Fleury, observou que hoje, como prestadores de serviços, eles têm muitos dados, mas que o foco é o compartilhamento de informações com o paciente, que é dono dessas informações. Que seria necessário transformar esses dados em informações e a partir daí tecer políticas governamentais. “As empresas estão se preparando para lidar com essas informações”, ressaltou.

 

Para Guilherme Collares, do Hermes Pardini, é necessário fazer a tradução, para o médico, desses dados que temos, e mostrar para eles e para os gestores de saúde. As ferramentas de bigdata mostrarão se estamos ou não no caminho certo. Enfatizou a dificuldade de encontrar profissionais preparados no mercado para atuar quando da incorporação de novas tecnologias e que, para isso, eles costumam instituir programas próprios de capacitação e treinamento.  Relatou ainda, que um sistema integrado de informações pode facilitar a transação e evoluir para como serão utilizados os recursos.

 

Segundo Gustavo Campana, tudo passa pelas informações e como tratá-las. Comentou sobre o desperdício, pois há exames pedidos em excesso e outros que nunca são solicitados. E indagou qual o número ideal de exames a serem solicitados. Destacou a necessidade de preparar o patologista clínico para esse mercado.

 

Ao encerrar os debates, Gonzalo Vecina ressaltou que só agora começamos a pensar na população. Sobre a gestão do conhecimento disse que o aparelho nunca vai formar alguém para vocês, vocês é que têm que formar. “Na universidade o conhecimento é genérico, é básico.”, disse. Sobre regulação, afirmou que a prática e o conhecimento do setor devem contribuir para a regulação. Senão, o que será feito, será mais do mesmo.

 

 

(Por Oficina de Mídia – 31.3.17)

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