A declaração do ministro da Saúde, Ricardo Barros, na sexta-feira, 15 de julho, durante evento da Associação Médica Brasileira (AMB) em São Paulo, de que a maioria dos pacientes que procura atendimento em unidades de atenção básica da rede pública apenas “imagina” estar doente, mas não está, provocou reação de diversas entidades médicas. Ainda de acordo com o ministro, é “cultura do brasileiro” só achar que foi bem atendido quando passa por exames ou recebe prescrição de medicamentos, e esse suposto “hábito” estaria levando a gastos desnecessários no SUS (Sistema Único de Saúde).
“A maioria das pessoas chega ao posto de saúde ou ao atendimento primário com efeitos psicossomáticos. Por que 50% dos exames laboratoriais não são retirados pelos interessados? Por que 80% dão resultado normal? Porque foram pedidos sem necessidade”, questionou o ministro.
Para Barros, a população costuma associar uma boa consulta à solicitação de exames. Ele defendeu que os médicos ajudem a mudar esse pensamento. “Não temos dinheiro para ficar fazendo exames e dando medicamentos que não são necessários só para satisfazer as pessoas, para elas acharem que saíram bem atendidas do postinho de saúde”, disse.
O ministro defendeu que os médicos façam uma investigação mais criteriosa do paciente, antes de solicitar exames ou prescrever remédios. “O médico tem de apalpar o cliente, fazer anamnese, tem de conversar com a pessoa”, afirmou.
Críticas
Segundo Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, “de maneira geral, qualquer unidade de saúde terá 70% dos exames com resultado normal. Isso acontece porque o paciente não é bem examinado, não é bem interrogado, e são solicitados os exames errados. Ou então, na rede pública, o exame demora tanto para ficar pronto que, até lá, o paciente já sarou e não vai retirar o resultado”, disse.
Ele afirma que a solicitação de exames desnecessários está relacionada a falhas na formação ou na postura do médico. “O paciente não tem culpa nisso. A maioria tem queixa real, que não é devidamente valorizada pelo médico”.
Florentino Cardoso, presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), afirmou que o paciente nem tem o poder de escolher se quer fazer exames ou tomar remédios e é preciso avaliar melhor os dados informados pelo ministro antes de qualquer conclusão. “O julgamento do que o doente precisa é médico. Às vezes está lá que o doente não foi pegar (o resultado do exame), mas o doente ou o médico viram na internet. Precisamos saber quais lugares têm essa população de pacientes atendidos com exames normais ou que não foram buscá-lo. Porque, senão, fica algo jogado no ar.”
Em nota, o Ministério da Saúde contestou a reportagem, dizendo que o título da matéria está equivocado.
(Com informações do jornal O Estado de S. Paulo – 16.7.16)