As semanas seguintes ao Carnaval são de alerta entre infectologistas. Médicos e pesquisadores tratam o período de festas com especial atenção dado que, historicamente, há um aumento significativo de casos de infecções sexualmente transmissíveis adquiridas ao longo dos dias em que foliões fazem festa Brasil afora. Para tentar conter o crescimento de contágios, órgãos de saúde de todo o País criam campanhas de prevenção alertando sobre os riscos e incentivando os foliões a tomarem medidas adequadas para evitar problemas.
Apesar do esforço das autoridades de saúde, as semanas e meses seguintes ao período de Carnaval costumam ter um crescimento de diagnósticos de doenças como herpes genital, sífilis, gonorreia, a clamídia, hepatites virais B e C, HPV e HIV. Além deste aumento de casos, muitas pessoas optam por não procurar ajuda médica mesmo com o aparecimento de sintomas, uma atitude que, na prática, prejudica o tratamento e pode ter um efeito colateral grave: tornar estas infecções mais fortes e resistentes a medicamentos.
Recentemente autoridades de saúde americanas vieram a público anunciar a existência do que chamaram de uma variação da gonorreia que vem sendo chamada informalmente de “supergonorreia”. Segundo especialistas, a doença que é considerada a segunda infecção sexualmente transmissível bacteriana mais comum entre as IST, tem ficado mais resistente a medicamentos convencionais na medida em que as transmissões se alastram cada vez mais fora de controle e os pacientes não buscam tratamento adequado.
O infectologista credenciado da Paraná Clínicas, empresa do Grupo SulAmérica, Dr. Luiz Otávio da Fonseca (CRM-PR 39.666, RQE 23.253), conta que na prática clínica cotidiana já é possível observar casos onde medicamentos tradicionais não estão surtindo os efeitos esperados “Apesar de não termos confirmações de que se tratam de casos como os descritos nos Estados Unidos, temos observado pacientes que não respondem ao tratamento inicial com os antibióticos padrões para gonorreia. Se casos como esse não forem tratados adequadamente eles podem, sim, contribuir para um aumento gradativo da resistência dessa doença e de outras infecções sexualmente transmissíveis”, alerta o médico.
E este está longe de ser um problema isolado: segundo dados da última Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), aproximadamente 1 milhão de brasileiros são diagnosticados com algum tipo de IST por ano no Brasil, números correspondentes a 0,6% da população com 18 anos de idade ou mais. Segundo especialistas, tais números evidenciam o alto risco de contágio para pessoas que não tomam os cuidados de prevenção adequados. No caso, o método mais eficaz, prático e seguro de prevenção é o tradicional uso de preservativos, sejam masculinos ou femininos, em todos os tipos de relações sexuais – sejam orais, anais ou vaginais.
Diagnóstico e prevenção
Segundo Fonseca, uma parte fundamental do combate a propagação das IST é o diagnóstico claro e precoce do problema. Neste sentido é fundamental a realização de exames periódicos que detectem as infecções ainda em estágios iniciais. O Ministério da Saúde, inclusive, oferece via SUS testes rápidos de HIV, sífilis e hepatites B e C em unidades básicas de saúde da rede pública ou em Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) espalhados pelo País.
Além da testagem gratuita, outro serviço oferecido pelo SUS é o PEP (Profilaxia Pós-Exposição de Risco), uma medida de prevenção de contágio emergencial para ser utilizada em situação de risco à infecção ao HIV. Ela se consiste na aplicação de medicamentos que reduzem o risco de contágio e deve ser feita em caráter de urgência até 72h após o ato.
De qualquer forma, segundo Fonseca, a orientação em casos de sintomas suspeitos tais como surgimento de feridas, corrimentos, dores pélvicas, verrugas anogenitais, ardência ao urinar e outras lesões de pele é a imediata procura por um serviço de atendimento a fim de fazer a testagem precoce de uma possível infecção sexualmente transmissível. E é importante destacar: a testagem e acompanhamento permanentes para pessoas que têm um ou mais parceiros sexuais é muito importante. “É fundamental que as pessoas se conscientizem da realização de exames periódicos para detecção precoce de IST tanto para a proteção do indivíduo quanto para a proteção de seu parceiro ou parceira”, conclui o infectologista. (Com informações da EXCOM – 27.02.23)