Inteligência Artificial na saúde permite decisões em tempo real e até prever surtos

A transformação digital no segmento de saúde é um processo irreversível, cujas ferramentas permitem utilizar o enorme volume de dados disponíveis, como evidências e dados preditivos, em muitos casos ainda em registros manuais, de forma estratégica e ágil, para apoiar as decisões médicas, gerar economia de recursos financeiros às instituições, prever surtos e, sobretudo, salvar vidas.

Essas foram algumas das constatações dos especialistas presentes no lançamento do sistema Biofire Syndromic Trends, realizado em São Paulo, no começo de junho, e que reuniu profissionais de saúde de hospitais, laboratórios, sociedades médicas e entidades de várias partes do Brasil e do exterior.

A ferramenta fornece tendências locais e regionais de circulação de patógenos sob demanda. Os usuários podem visualizar tendências de patógenos para laboratórios, bem como tendências regionais e nacionais de patógenos, todas criadas a partir de dados não identificados que foram agregados com dados de testes de outras instituições participantes.

“Doenças infecciosas geram muitos dados e a questão hoje é o que fazer com tudo isso para gerar valor aos pacientes”, comentou Ruan Fernandes, Medical Affairs da bioMérieux, associada da CBDL, na abertura da reunião. “Há muitos desafios nos quais a ferramenta Syndromic Trends pode ajudar como o combate à Resistência Antimicrobiana (RAM), à sepse, sazonalidade, notificação de agravos e a previsão de surtos”, explicou.

O encontro contou com a palestra do Dr. Ivan Gutierrez, médico cirurgião pela Pontifícia Universidad Javeriana, de Bogotá (COL), membro do Instituto Nacional de Pediatria (México), e especialista em doenças infecciosas pediátricas, que abordou “Tendências Sindrômicas, Análise de Informações e Impacto Clínico – Da Experiência à Evidência”.

Ele mostrou as vantagens de montar uma rede de informações que permita analisar e acompanhar em tempo real os tipos de patógenos em circulação, e até prever os picos de epidemias, uma vez que os vírus mudam muito rápido. “Ao usar a ferramenta de Syndromic Trends, integrada com a epidemiologia, podemos conhecer até mesmo o panorama histórico das infecções e monitorar os vírus de interesse. Isso possibilita intervenções clínicas mais assertivas, baseadas nessa análise de dados locais, e uma gestão mais eficaz pelas instituições”, afirmou.

Para o professor Alberto Duarte, atualmente diretor do Laboratório da rede D’OR, em São Paulo, os dados apresentados pelo Dr. Gutierrez são surpreendentes, em razão do potencial científico, e essa ferramenta precisa ser aplicada aqui no Brasil. “As pessoas olham apenas o valor de uma compra, mas não o que ela representa, que tipo de economia irá gerar. Já vi isso em instituições públicas e privadas. O gestor quer economizar e nem sempre consegue ver o custo x efetividade. A área médica vê o melhor cuidado e a melhor eficiência possível ao paciente. Acredito que com ferramentas como esta, de Inteligência Artificial, isso possa mudar, porque você terá a possibilidade de fazer avaliações que antes seriam muito difíceis fazer. Isso é o futuro e uma grande mudança”, analisou o especialista.

“Obtenção de dados em tempo real sobre doenças respiratórias, com a possibilidade de uso de outros painéis, como os de pneumonia, vai ajudar de maneira importante na alocação de recursos, desde a definição de quantos médicos ter no hospital, quantos leitos destinar para determinada patologia, direcionamento adequado de equipamentos e medicamentos. Isso pode ter um impacto enorme, tanto na saúde pública quanto na privada”, avaliou André Bon, gerente médico de Infectologia e CCIH da Dasa Hospitais.

“A ferramenta traz a solução da integração das informações, porque uma coisa é o dado do hospital onde eu trabalho, outra é o dado do país, que tem força para gerar ações necessárias em saúde que irão afetar todo mundo. Estamos no mesmo ecossistema, seja público ou privado, e somos afetados pela Resistência Antimicrobiana, por exemplo, que está em todos os lugares. Temos de usar melhor os recursos e gerar valor ao que fazemos, pela relação custo x efetividade. Muitas vezes os técnicos não têm essa linguagem dos gestores e para convencê-los é preciso falar a língua deles”, disse a Dra. Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias, infectologista do Hospital Nossa Senhora das Graças (Curitiba/PR).

“Isso é estar na vanguarda, porque os painéis sindrômicos já são uma realidade, estão presentes no dia a dia dos laboratórios. Uma ferramenta de gestão que possibilita conhecer tendências desses resultados é bem-vinda no combate às doenças infecciosas”, avaliou Anelise Wengerkievicz Lopes, diretora médica de Patologia Clínica do laboratório Dasa e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML).

Carlos Eduardo Gouvêa, presidente executivo da CBDL (Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial), comentou sobre a percepção de valor dessa tecnologia do ponto de vista do paciente e da saúde pública. “Uma ferramenta de gestão permite a construção de modelos para atuar frente às pandemias, o que representa muitas oportunidades para o segmento de diagnóstico”, concluiu.

O diagnóstico sindrômico baseia-se numa solução disponível para a detecção de microrganismos (bactérias, vírus, fungos e parasitas) causadores de uma infecção e dos genes de resistência associados a estes agentes patogénicos. Caracteriza-se por um conjunto de sinais e sintomas apresentados pelo paciente, e pela sua abordagem diagnóstica através de um teste robusto que permite a detecção simultânea destes agentes infecciosos, permitindo a tomada de decisões corretas desde a abordagem terapêutica e controle da infecção.

O diagnóstico sindrômico pode ser aplicado em diversas especialidades médicas, incluindo emergências, medicina interna, cuidados intensivos, doenças infecciosas, pediatria. O sucesso na sua implementação e alcance de metas depende da unificação de critérios para sua seleção e interpretação com base no conceito de gestão do diagnóstico (diagnostic stewardship, em inglês). Essa estratégia baseia-se na seleção do teste certo, para o paciente certo e informado no momento certo de acordo com a gravidade da infecção. (Com informações da Press Talk – 24.06.2024)

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