Um esforço internacional para levar uma remessa de testes para identificar o coronavírus em 48 aldeias de onze etnias indígenas numa área quase inacessível na Amazônia, tenta bloquear a expansão da pandemia em mais de 5 mil indígenas. Quatro índios já morreram, 4 estão doentes, há 12 casos suspeitos e outros 787 foram contaminados, e quem adoece está longe demais de qualquer hospital onde possa ser tratado. O esforço agora é para identificar as áreas de circulação do vírus e isolar totalmente quem testar positivo, para bloquear a expansão da epidemia.
A informação é do Instituto Raoni, que reúne índios Kayapó, Trumai, Tapayuna, Juruna e Panará em aldeias tão remotas que só podem ser alcançadas por caminhão que precisam trafegar uma semana por estradas que mal passam de picadas no meio da mata, o que torna inviável levar as amostras coletadas dos índios para a cidade mais próxima, Sinop, perto da fronteira com a Bolívia.
Nem com drones é possível
“O problema é que para o teste RT-qPCR, que identifica a presença do vírus no organismo, o material colhido das narinas e garganta dos índios precisa ser analisado em até 72 horas em laboratório se transportado em temperatura ambiente”, explica Guilherme Ambar, diretor da subsidiária nacional da Seegene sul-coreana, que produz os testes. Ele conta que estudou até fazer o transporte das amostras para o laboratório usando drones, mas a distância a ser coberta é tão grande que os drones disponíveis não conseguiriam cobri-la e a logística dos profissionais de saúde para efetuarem as coletas não atenderia a urgência necessária.
“A Seegene doou 1.900 testes rápidos, que identificam a presença de anticorpos”, diz ele, o que permite identificar quem já teve contato com o vírus e teoricamente está protegido, mas o problema é que para o controle da epidemia é preciso fazer o teste molecular de quem tem os sintomas, para identificar os índios em cujo organismo o vírus está ativo. Esse teste é que permitiu que a epidemia fosse controlada na Coreia do Sul.
Para trabalhar as amostras dos testes moleculares doados, a solução será o envio de ao menos cinco moderníssimos miniprocessadores de testes para outras tantas aldeias, que contam com gerador de eletricidade. Será preciso também treinar agentes sanitários locais para processar as amostras e interpretar o resultado, que indica não a presença de anticorpos, mas sim a presença do vírus ativo no organismo.
“A necessidade imperiosa de identificar os contaminados decorre da dificuldade do tratamento nas aldeias”, explica Karina Paço, do Instituto Raoni. Não há hospitais suficientes nem prontos-socorros na região e quanto a respiradores, apenas 5 das 48 aldeias possuem esses equipamentos não é possível sequer pensar, diz ela e a carência de imunidade dos índios às doenças dos brancos faz com que a COVID tenda a ser mais grave entre essa população.
Por outro lado, dependendo da região, o transporte de um doente para um hospital demora tantos dias, que é também inviável. O único caminho é bloquear a epidemia, e para isso a testagem é essencial, para que se saiba quem é preciso ser isolado. (Com informações da DOC Press- assessopria de imprensa da Seegene – 24.11.20)