Escalada ao Everest e desafios do segmento saúde segundo o Banco Mundial marcaram evento de fim de ano da CBDL

O economista, empresário e professor, Juarez Gustavo Soares, e o economista sênior do Banco Mundial, Edson Araújo, encerraram o ano de atividades da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), em encontro realizado no último dia 5 de dezembro, no auditório do Grupo Fleury, em São Paulo.

O evento “Brasil 2020 – Quebrando barreiras e estabelecendo novos paradigmas para o crescimento sustentável”, contou com a participação de diversas entidades do segmento saúde como ABIIS, Abimed, Abimo, Abramed, CBDL, Instituto Ética Saúde (IES), CN Saúde, Fehoesp, SBAC, SBPC/ML e Grupo Fleury.

Na abertura do encontro, o presidente do Grupo Fleury, Carlos Iwata Marinelli, mostrou-se otimista com relação ao cenário da saúde no Brasil. Já Fábio Arcuri, presidente da CBDL, que também abriu o evento, agradeceu a participação de todas as entidades.

Juarez Gustavo Soares, economista, empresário e professor da Fundação Dom Cabral, proferiu a primeira palestra com o tema “Estresse, auto sabotagem, burnout e superação: do Everest para as empresas”. Soares trouxe a experiência de sua jornada ao Monte Everest, que teve início na cidade de Kathmandu, no Nepal.

O alpinista enalteceu a ajuda dos sherpas, povo que vive nas montanhas do Himalaia para ajudar os que se aventuram a escalar os montes da região. No entanto, Soares ressaltou que o mais difícil é escalar o Everest mental, cujo cume são as autossabotagens impulsionadas pelo medo. “São oito as armadilhas mentais do inconsciente. Mas, duas são as principais: a mente que protege nosso ego de possíveis danos ou sofrimentos (status quo) e as decisões futuras baseadas em escolhas passadas (sunk cost). 

Fundamentado em sua trajetória como alpinista, Soares aconselhou à plateia presente a desarmar as armadilhas mentais com algumas dicas de superação: encarar a verdade; trazer novas perspectivas; cultivar um espaço seguro; compartilhar as dores; orientar-se pelas tarefas do dia e administrar bem a energia.

“É necessário ter pré-requisitos fundamentais para viver: planejamento, determinação, resiliência, persistência e coragem. No entanto, tudo o que está ao seu alcance você deve fazer, sempre levando em conta o imponderável. Por meio da consciência da vulnerabilidade é que surge a força para lutar”, ponderou.

Em seguida, foi a vez do economista sênior do Banco Mundial, Edson Araújo, que apresentou números significativos sobre a saúde no Brasil com a palestra “Desafios para sustentabilidade do sistema de saúde brasileiro – perspectiva do Banco Mundial”.

Araújo demonstrou, por intermédio de gráficos, o crescimento do Sistema Único de Saúde (SUS), no período de 2003 a 2017. Os índices demonstraram que os gastos públicos foram superiores ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). “Este é um padrão observado na maioria dos países desenvolvidos. O crescimento dos gastos com a saúde é sempre maior”, disse ele. O economista também se referiu à taxa de crescimento dos salários do setor saúde, em detrimento à expansão da produtividade.

No tocante aos desafios, Araújo declarou que, apesar do crescimento do PIB, o gasto público é baixo em relação ao gasto total com a saúde. “O Brasil envelhece mais rápido que o Japão. Cerca de 22% dos gastos com saúde vão para a população com mais de 50 anos”, comentou.

O economista do Banco Mundial também citou a “deseconomia de escala”, conforme o tamanho dos municípios brasileiros. “O Brasil conta com mais de 70% de municípios pequenos, com até 20 mil habitantes que não se sustentam financeiramente. A qualidade da rede hospitalar nestes lugares é precária e com pouca eficiência. As taxas de mortalidade são bem maiores. Enquanto nos hospitais com mais de 600 leitos, a taxa de mortalidade é de 5,81%, nos pequenos hospitais este número chega a 9%”, alertou.

Com relação à gestão, Araújo destacou o papel das Organizações Sociais de Saúde (OSS) como eficiência em desempenho, produtividade e qualidade das suas unidades de saúde.

No que diz respeito aos médicos, o economista defendeu que a oferta de médicos é relativamente baixa e que está concentrada nos centros urbanos, além da má distribuição, problema que aponta como mundial. “Isso ocorre na Inglaterra, na Dinamarca, no Canadá, nos Estados Unidos, entre muitos outros países”.

A escassez de médicos também impacta nos níveis salariais e na produtividade do setor. Para Araújo, o número de consultas médicas no Brasil é baixo, e é possível aumentá-lo cinco vezes mais. Os gastos com internações evitáveis também são considerados elevados e poderiam ser bem mais reduzidos com uma Atenção Primária à Saúde (APS)  mais eficiente.

Por fim, Araújo elencou as propostas de reformas para os anos seguintes, desde que obedecidas as regras básicas estabelecidas em 2018 pelo Banco Mundial, calcadas na diminuição da pobreza e da desigualdade.

“Implantação de redes integradas de atenção à saúde; aprimorar a coordenação com os sistemas de saúde de saúde suplementar; reformas do lado da oferta, da demanda e do pagamento aos prestadores, além de reparos no financiamento para conferir mais qualidade, desempenho e produtividade”, realça ele.

Sobre o futuro do SUS, o economista ressaltou a importância de preparar o sistema para enfrentar os desafios existentes como o envelhecimento da população e o aumento da carga das doenças crônicas. “A consolidação do SUS depende da capacidade de adotar medidas inovadoras para sua modernização, como foram inovadoras as ideias que inspiraram a implantação da cobertura universal de saúde no país há três décadas”, finalizou.

No encerramento do encontro, os principais líderes das entidades participantes do evento fizeram perguntas e interagiram com os palestrantes.

“Este ano tivemos a ideia de trazer um evento eclético, versátil, e que pudesse inspirar os líderes do segmento saúde a superar desafios e alçar voos mais altos. Além disso, tivemos a possibilidade de observar a situação real do cenário da saúde no Brasil sob a ótica Banco Mundial. Foi muito satisfatória a participação das associações que estiveram presentes no encontro. Nossa perspectiva para 2020 é mais otimista”, declarou Carlos Eduardo Gouvêa, presidente executivo da CBDL. (Com informações da Oficina de Mídia – 11.12.19)

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