Por Guilherme Ambar*
Quando se fala sobre como melhorar a saúde da população brasileira, sempre pensamos em altos custos, necessidade de mais recursos e sobre o desafio de levar mais médicos e construir novos hospitais nas imensas áreas deste país/continente, onde parcela significativa da população continua a viver longe das grandes cidades e de boa infraestrutura da saúde pública.
Uma revolução silenciosa está ocorrendo, entretanto, não só com a telemedicina, que leva de forma virtual o médico até o paciente por mais distante que ele resida, mas principalmente graças ao diagnóstico molecular multiplex. Ele reduz drasticamente a espera para o resultado de um teste, permite que imensa quantidade de pacientes, que de outra forma não teriam sua patologia diagnosticada, passem a ter diagnóstico e, consequentemente, tratamento eficaz.
Atualmente, para citar alguns exemplos, o paciente dos rincões que na sua linguagem peculiar se queixa de ‘dor na cacunda’, ‘que não para nada no estômago’ ou que ‘tenho uma lombeira, não consigo nem trabalhar’, começa seu ‘tratamento’ tomando o chá caseiro recomendado pelo vizinho.
Quando isso não resolve vai trabalhosamente para a cidade muitas vezes para que a consulta com especialista seja marcada para semanas depois. Volta para o ‘sertão’ ou para o ‘sítio’ para regressar de novo à cidade, ser atendido e fazer um exame cujo resultado sairá em uma semana ou dez dias, tornando necessária outra viagem, que geralmente acaba não fazendo.
Resultado: continua convivendo com a doença que não sabe qual é e quando o tempo passa e a situação se agrava, é levado de novo para a cidade, já então para ser hospitalizado e submetido a um tratamento dispendioso, demorado, que teria sido evitado com o diagnóstico precoce e o combate imediato à doença.
Com a incorporação da agenda ESG (environmental, social and Governance), que objetiva atender às necessidades sociais, ambientais e à governança, os planos de saúde e governos (municipais, estaduais e federal) estão se voltando para redes de alto desempenho e centros de excelência que facilitam o acesso e a qualidade dos cuidados, principalmente aos pacientes mais vulneráveis.
A implementação de unidades móveis de diagnóstico, as campanhas de conscientização sobre a importância da detecção precoce de doenças e a capacitação de profissionais locais são algumas maneiras de usar as novas tecnologias para beneficiar comunidades vulneráveis.
Com o diagnóstico molecular multiplex e a automação dos processos laboratoriais o brasileiro do exemplo acima faz apenas uma vez a trabalhosa e cara viagem para o grande centro e, após coleta única de material recebe rapidamente o diagnóstico que se tornou mais barato, muitíssimo mais rápido e, consequentemente, acessível. E volta para a casa com a medicação adequada e a expectativa de uma rápida recuperação.
O SUS, que atende a 75% da população e que, sempre com carência de recursos, não reajusta sua tabela há décadas, conseguirá reduzir significativamente custos operacionais à medida que incorpora as inovações tecnológicas.
As melhorias nos fluxos de trabalho, as iniciativas sustentáveis, como a automação de processos laboratoriais e a utilização de tecnologias para reduzir desperdícios e a adoção de práticas ecoeficientes começam a produzir resultados positivos na saúde da população.
As parcerias estratégicas também são fundamentais na promoção de soluções mais integradas e acessíveis. No nosso setor, vão se formando parcerias com governos locais, ONGs e sistemas de saúde comunitários para levar exames de diagnóstico molecular a regiões carentes, onde o acesso à saúde sempre foi mais limitado
Ganha com isso a saúde pública e ganha principalmente a população, à medida que o Brasil busca caminhos para ser um país um pouco menos desigual, com oportunidades semelhantes na área da saúde, para aqueles que se valem da medicina privada e para os que contam exclusivamente com o SUS.
*Guilherme Ambar é biólogo e CEO da Seegene Brazil