Ampliar perspectivas, trocar ideias, explorar novas soluções e impulsionar o diagnóstico no mercado de cooperativas médicas foram alguns dos objetivos do II Fórum de Acesso bioMérieux: Impacto dos Diagnósticos nas Cooperativas Médicas, realizado em São Paulo, em novembro.
O encontro reuniu 48 profissionais de saúde e de outras especialidades, e contou com palestras de representantes da Unimed, o maior sistema cooperativista em saúde do mundo, das cidades de Belém (PA), Blumenau (SC), Sorocaba (SP), Teresina (PI), e da Unimed Federação do Estado do Paraná.
Na abertura, o diretor-geral da bioMérieux Brasil, Fernando Oliveira, destacou a missão da companhia de ter participação ativa na saúde pública em cada país em que estiver presente, honrando o legado da família Mérieux, assim como dialogar com as fontes pagadoras. “Atuamos em um sistema público e privado complexo e dentro desse cenário as cooperativas fazem um papel muito relevante, pois o paciente de um lado precisa ser atendido, e as operadoras de saúde querem atingir seus objetivos financeiros. Não queremos apenas fornecer testes de diagnóstico, mas inovação que traga benefícios para ambos os lados, prover dados para a melhor decisão médica e desfecho, em cada canto do país”, afirmou.
Na sequência, o Dr. Newton Nunes Filho, atual presidente da Unimed Teresina e considerado uma das 100 personalidades mais influentes na área de saúde em 2024, falou sobre “O Papel da Inovação nas Cooperativas Médicas”, reforçando que a própria cooperativa já é uma inovação por sua função, de suplementar o sistema público de saúde, e que já atende mais de 20 milhões de pacientes no país, com 118 mil médicos cooperados.
“Vivemos hoje um dos momentos de maior transformação digital para apoiar a entrega de valor em saúde, com muitas tecnologias emergentes, a exemplo da telemedicina, da inteligência artificial, big data, imunobiológicos/imunoterápicos, terapias celulares/gênicas e novos dispositivos”, afirmou o médico. “Isso cria novos desafios culturais, financeiros e regulatórios. A adoção em cooperativas depende muito de convencer as pessoas sobre a viabilidade dessas inovações, porque a margem de lucro é muito pequena. E ainda há o desafio de incluir no orçamento que já existe uma nova tecnologia aprovada”, avaliou.
Segundo Nunes, é preciso alinhar na gestão as expectativas de cooperados, colaboradores, parceiros e pacientes. “Parcerias estratégicas ajudam nisso, assim como treinamento constante. Ótimo seria ter mais incentivo governamental e menos burocracia para fazer o processo fluir, porque inovar é um compromisso com o futuro, uma necessidade para atingir a sustentabilidade”, concluiu.
Na sequência, Gabriel Ogata, gerente nacional de Acesso da bioMérieux, falou sobre “Medicina de Precisão e Sustentabilidade Financeira: O Papel dos Diagnósticos Avançados”. Ele abordou o cenário de custos elevados, pagamento por volume, envelhecimento da população, cuidado desordenado e falta de mensuração de desfechos, que tanto prejudicam a sustentabilidade financeira do segmento de saúde suplementar no Brasil.
Comentou o aprendizado com o processo da CONITEC (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), que acaba de recomendar a incorporação do Teste PCR multiplex direto rápido para diagnóstico de meningite e encefalite, tendo a entidade responsável pela solicitação sido a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), o que significou importante chancela de credibilidade.
“O diagnóstico sindrômico permite, com diferentes painéis, detectar 120 patógenos em até 1 hora. Com mais de 239 mil casos confirmados de meningite e encefalite no Brasil desde 2010, se essa tecnologia já estivesse disponível, poderiam ter sido economizados em torno de R$ 500 milhões, em hospitalização e medicação”, completou o especialista.
“Integração do Laboratório no Modelo Assistencial: Otimizando a Jornada do Paciente” foi o tema da palestra do Dr. Fábio Brazão, da Unimed Belém. Ele descreveu as fases dos processos laboratoriais e a relação qualidade x quantidade, pois 70% das decisões médicas se baseiam em exames laboratoriais, o que exige do profissional ter protocolos assistenciais bem definidos.
“Os laboratórios não são os vilões dos custos, somam menos de 5% do total. Entretanto é preciso investir mais na educação médica, para que o profissional saiba que exames solicitar para fechar o diagnóstico, até oferecer mais informação ao paciente, que tem a falsa sensação de segurança quando faz vários exames, sob a condição de usufruir melhorar de sua cobertura de saúde”, disse Brazão. “O desperdício estimado chega a R$ 30 bilhões. É urgente para combatê-lo pedir o exame certo para o paciente certo, no momento certo.”
O Dr. Rafael Gama, da Unimed Blumenau, abordou “ATS nas Cooperativas Médicas: Equilibrando Inovação e Sustentabilidade”. Ele explicou o papel da Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS), processo que analisa as implicações do uso de tecnologias de saúde, a fim de fornecer informações para a tomada de decisões, em especial na cooperativa.
“Nossa função é entender a tecnologia, definindo as dimensões dessa análise, a efetividade, os resultados reportados, a experiência do cuidado, o uso do sistema de saúde e o custeio financeiro. Só pode prescrever algo fora do rol mediante a comprovação da eficácia, alta evidência e plano terapêutico. A operadora deve ter o papel de gestora financeira”, afirmou.
“Dinheiro existe, o problema é o desperdício, em torno de 30%”, ratificou Joatam Leite, da Unimed Federação do Estado do Paraná, em sua apresentação “Alinhando Prestadores e Operadoras em Busca de Valor em Saúde”. Ele destacou quatro propósitos a serem perseguidos na operação: melhor gestão populacional, redução do custo do cuidado, melhor experiência do paciente e melhor satisfação do prestador.
“O contexto atual, de remuneração por doença, gera o desperdício. É preciso alinhar os interesses pela entrega de valor. Mudar o incentivo, medir os indicadores e sobretudo perguntar ao paciente sobre o desfecho. É um trabalho de conscientização que passa pelo médico, orientando-o a pedir o exame correto, que lhe garantirá fechar o diagnóstico e, assim, indicar o tratamento mais adequado”, explicou o gestor.
Com um expressivo volume de mais de 500 mil exames realizados todos os meses na Unimed Sorocada, dos quais 80% no laboratório de análises clínicas, o Dr. Fernando Ruiz falou sobre “Integração de Diagnósticos Moleculares nos Protocolos Clínicos” e apresentou dados da unidade que comprovam a importância do diagnóstico para a tomada de decisão rápida. “A interpretação certa leva à indicação do antimicrobiano certo, no tempo adequado. O uso dos painéis de diagnóstico rápido permitiu, em muitos casos, descalonar e até interromper o uso de antibióticos, com altas em menor tempo”, explicou.
“Em saúde, o que é caro ou barato? Porque, no fim, todos pagam pela fraude e pelo desperdício”, alertou a Dra. Maria Teresa Lodi, médica especializada em Consultoria em Saúde Suplementar, com foco em Auditoria e Compliance, em sua palestra “Auditoria e Conformidade em Processos Diagnósticos”. A pergunta serviu para explicar o problema do modelo de pagamento no Brasil, chamado fee for service (FFS), que incentiva consumir o máximo de insumos possível, para fazer a conta crescer, dentre outros problemas. “Há de tudo, gente que usa a carteirinha de outra pessoa, medicação certa em dosagem errada, medicação errada, materiais errados, falhas no atendimento, laboratórios com goteira, exames que são realizados, mas não são retirados, excesso ou subutilização de equipamentos caros”, enumera.
Para a médica, é preciso conscientizar cada parte sobre a sua função e importância. “A qualidade do resultado traz segurança para o médico e leva ao melhor desfecho, com menos tempo de internação. Então temos que ensinar os médicos a lidarem com os planos de saúde, porque eles saem da faculdade sem saber. Talvez até incluir isso no currículo”, sugere.
Voltando à questão do início da sua palestra, ela orienta coletar dados para chegar à conclusão se um recurso vai sair caro ou barato. “Novos exames e tecnologias garantem menos desperdício de insumos, tempo e recursos, favorecendo o paciente. O futuro da saúde exige a mudança de mindset, pois o que funcionava tempo atrás, pode não existir em breve. O momento é disruptivo, com teleconsulta, inteligência artificial, novas terapias e inovação em diagnóstico”, conclui a especialista. (Com informações da Press Talk – 13.12.2024)