Um estudo publicado na revista científica The Lancet Global Health trouxe a revisão de 65 trabalhos, com 44.769 homens de 35 países. Os autores evidenciaram que a prevalência global de infecção pelo papilomavírus (HPV) em homens é de 31% para qualquer tipo do vírus e 21% para os HPVs de alto risco para desenvolvimento de câncer ou outras doenças genitais (HR-HPV). O HPV-16 foi o genótipo de HPV mais prevalente, seguido pelo HPV-6. Ambos, assim como os HPVs 11 e 18, podem ser evitados com a vacina quadrivalente, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para os homens desde 2016, mas que conta com baixa taxa de adesão.
A revisão mostra que a prevalência do HPV foi elevada em adultos jovens, atingindo um pico entre as idades de 25 e 29 anos e estabilizou ou diminuiu ligeiramente a partir de então. As estimativas de prevalência agrupadas foram semelhantes para diferentes regiões geográficas compreendidas no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU: Europa e América do Norte, África Subsariana, América Latina e Caribe; Austrália e Nova Zelândia (Oceania). As estimativas para o Leste e Sudeste Asiático apontam para metade de prevalência em comparação com as outras regiões.
“A falta de percepção do risco por trás da relação íntima sem preservativo e a realização do sexo oral, expõe a população ao vírus HPV. Somado a isso, temos uma baixa adesão à vacina, o que é uma grande perda, pois ela contribuiria para reduzir a carga de infecção. É necessário intensificarmos as campanhas de conscientização sobre a vacinação contra HPV, além de promover educação sobre prática de sexo com segurança”, ressalta o cirurgião oncológico e urologista Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos da BP – Beneficência Portuguesa de São Paulo.
A recomendação atual do Ministério da Saúde é a de que todos os meninos de 9 a 14 anos de idade devem receber a vacina contra HPV (sendo recomendadas duas doses antes dos 15 anos), assim como as pessoas que vivem com HIV e pessoas transplantadas de qualquer idade (com esquema de três doses).
Com o estudo identificou a alta prevalência de HPV em homens – foi realizada uma revisão sistemática e metanálise para avaliar a prevalência da infecção genital por HPV na população masculina em geral. Para tanto, foram pesquisadas as bases de dados Embase, Ovid MEDLINE e Global Index Medicus, tendo sido selecionados os estudos publicados entre 1º de janeiro de 1995 e 1º de junho de 2022. Os critérios de inclusão foram pesquisas de base populacional em homens com 15 anos ou mais ou estudos de prevalência de HPV com um tamanho de amostra de pelo menos 50 homens sem patologia relacionada ao HPV ou fatores de risco conhecidos para infecção por HPV que coletaram amostras de locais anogenitais e que usaram técnicas de PCR ou captura híbrida 2 para detecção de DNA do HPV.
Os critérios de exclusão foram estudos realizados entre populações com risco aumentado de infecção por HPV, realizados exclusivamente entre homens circuncidados e baseados em amostras de urina ou sêmen. A partir disso, os autores analisaram os relatórios identificados e extraíram os dados resumidos daqueles que eram elegíveis. Os dados foram extraídos por dois pesquisadores de forma independente e revisados por um terceiro, com as discrepâncias sendo resolvidas por consenso. Foram extraídos apenas dados sobre HPVs do gênero α da mucosa. As prevalências globais e regionais específicas por idade para qualquer tipo de HPV, HPV de alto risco (HR) e tipos individuais de HPV foram estimadas usando modelos de efeitos aleatórios para metanálise e agrupadas pela classificação geográfica dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Próximos passos – Os pesquisadores concluem que estudos epidemiológicos adicionais que avaliem a prevalência específica por idade dos tipos de HPV em homens de outros países poderiam contribuir para impactar os esforços de monitorização tanto para os países que têm programas de vacinação contra o HPV para meninas como para o número crescente de países que estão incluindo os meninos nos programas de vacinação. A vacina contra HPV auxilia na prevenção de câncer de colo do útero, pênis, ânus e de tumores na região de Cabeça e Pescoço, especialmente de orofaringe. (Com informações da SENSU – 12.09.23)